Metodologia

Considerações metodológicas

O ano de 2019 foi marcado por diversos fatores internacionais que trouxeram consequências importantes para o agronegócio mundial. A principal delas foi a Peste Suína Africana (PSA), que afetou profundamente o mercado global de carnes. Os efeitos da doença sobre os rebanhos suínos de diversos países, especialmente o chinês, causaram uma queda sem precedentes na produção mundial de carne suína, que não conseguiu ser suprida pela oferta das outras carnes disponíveis, provocando alterações no comércio internacional e nos preços das diversas proteínas. O Brasil foi um dos países mais beneficiados, uma vez que é o maior exportador de carne bovina e de frango, e o quarto maior de carne suína.

Outro fator que influenciou o mercado global para os produtos agropecuários foi a guerra comercial entre os EUA e a China. A continuidade da disputa acabou reduzindo a competitividade dos produtos americanos, um dos principais fornecedores mundiais, e abrindo espaço para outros competidores. Tal cenário favoreceu a soja brasileira, principal produto agrícola de exportação do País, que teve uma grande procura por parte dos chineses. Em 2019, 78% de toda a soja embarcada nos portos brasileiros teve a China como destino.

Já em 2020 surgiram novos eventos que estão afetando a conjuntura agropecuária. Entre eles, a assinatura da Fase 1 do acordo entre os EUA e a China, que, se efetivado, deverá elevar consideravelmente a participação dos produtos americanos nas importações chinesas, e, mais recentemente, a pandemia do novo Coronavírus, com efeitos negativos sobre a atividade econômica mundial.

Para as projeções, como cenário-base utilizamos a perspectiva de uma queda importante do crescimento econômico em 2020. Consideramos também que não haverá interrupção abrupta do crescimento mundial para o período projetado, contudo admite-se a desaceleração no início desse período, já que o Coronavírus deverá ter profundos efeitos no curto prazo, com queda expressiva do PIB e de empregos. EUA e Europa, apesar de duramente afetados pela pandemia, terão crescimento na demanda por alimentos, mesmo que em taxas inferiores ao observado nos últimos anos.

Ainda no cenário interno, há diversos fatores de incerteza que continuarão a influenciar o desempenho do setor agropecuário, como: as definições jurídicas sobre o tabelamento dos fretes; a recuperação judicial de produtores pessoas físicas; a Lei Kandir e; a continuidade do Convênio ICMS nº 100/1997. Estes são exemplos que podem produzir consequências deletérias sobre o crescimento projetado.

Dando sequência às edições anteriores do Outlook Fiesp, esta edição tem o intuito de trazer elementos para discussões acerca dos diversos setores envolvidos com o agronegócio e, com isso, auxiliar na identificação de gargalos e na elaboração de propostas para o futuro do segmento, possibilitando antever as ações necessárias diante do crescimento esperado.

O modelo de projeções do agronegócio desenvolvido pela MB Agro vem sendo aperfeiçoado ao longo de mais de uma década e estabelece um balanço de oferta e demanda que mantenha consistência entre as principais economias produtoras e consumidoras de alimento do mundo. A consistência é avaliada a partir das relações estoque/uso que devem manter o mercado estabilizado no longo prazo.

No caso das commodities consideradas, o modelo de projeção do desempenho brasileiro parte de um balanço mundial da produção e do consumo de alimentos, no qual a demanda de cada país é estabelecida a partir das expectativas de aumento da população e do crescimento da renda per capita, combinados às elasticidades-renda dos alimentos em cada um desses países.

As previsões de renda utilizadas são as divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e da população, pela Organização das Nações Unidas (ONU). No caso brasileiro, as estimativas de crescimento da economia foram feitas pela MB Associados, baseada em seu modelo macroeconômico de consistência para o País.

Do ponto de vista da oferta, a produção dos alimentos é projetada com base na tendência da produtividade e da área disponível em cada um dos principais produtores. O Brasil é variável-chave para o fechamento do balanço internacional, dado que é uma das poucas regiões em que ainda é possível obter um ganho de produtividade, aliado ao aumento da área agrícola, ao contrário, por exemplo, dos EUA, onde a produção cresce a partir de ganhos restritos de produtividade ou de menor produção de uma determinada commodity em detrimento de outra, pelo remanejamento de uma área produtiva relativamente fixa.

Obtida a produção brasileira necessária para que a relação estoque/consumo mundial se mantenha em um patamar em que os preços justifiquem o crescimento da oferta global, as áreas demandadas para alcançar tais produções são estimadas a partir da curva projetada de produtividade para cada uma das commodities agrícolas em cada uma das nossas regiões.

Uma peculiaridade no caso do etanol é que o consumo interno brasileiro é derivado de um modelo de crescimento e depreciação da frota de veículos em função do PIB, tendo como variável exógena a participação dos veículos Flex Fuel nas vendas totais. Na oferta desse produto consideramos tanto o crescimento do setor sucroalcooleiro como o da produção de etanol de milho.

Para a celulose, a demanda por área plantada com florestas vem dos novos investimentos em fábricas programados pelo setor, que, no longo prazo, atendem às necessidades para exportação e para o mercado interno da celulose produzida no País.

As áreas e as produtividades esperadas são as variáveis de entrada no modelo de demanda de fertilizantes da agricultura brasileira. Associando essa produtividade com a curva de resposta à adubação, estabelece-se a necessidade de NPK por hectare para cada cultura. Multiplicando a área total de cada cultura pela necessidade de NPK, chega-se ao consumo de NPK para as lavouras. Adicionando a esse consumo o de fertilizantes para as pastagens, o reflorestamento e a adubação de base para a abertura de novas áreas, totaliza-se a demanda geral de NPK para o Brasil até 2029.

A partir dos projetos de investimento no aumento da produção de fertilizantes no País, estima-se a oferta doméstica futura de nutrientes, tendo como pressuposto um nível histórico de utilização da capacidade instalada. Com a oferta desses nutrientes por região, o balanço entre demanda e oferta é calculado, obtendo-se a necessidade de importação em 2029.

É importante destacar que, como a maior parte dos projetos de novas plantas de fertilizantes continua postergada ou está suspensa, prossegue o aumento significativo da dependência externa no suprimento da necessidade brasileira de fertilizantes no horizonte previsto.

Vale ressaltar, como observação para todo este trabalho, que as projeções adotam pressupostos que podem ser modificados ao longo do período considerado. Eventos climáticos mais severos, abertura de mercados, modificação do status sanitário e redução ou aumento do protecionismo internacional são apenas algumas das variáveis que podem afetar as expectativas para determinado produto.

Em alguns produtos como arroz, feijão, trigo e leite, a produção é primordialmente direcionada pela demanda do mercado doméstico, dado que o País não se configura como um grande player no mercado internacional dessas commodities.

Devido à possibilidade de alteração nas produções e estimativas de demanda em função dos fatores de risco inerentes ao setor agrícola ou a mudanças nas expectativas macroeconômicas, as previsões serão revisadas de forma dinâmica, caso algum evento mais relevante signifique uma modificação importante das perspectivas para as commodities analisadas. As atualizações realizadas poderão ser acompanhadas no endereço: http://www.fiesp.com.br/outlook.